Na aventura radical deste domingo, você vai acompanhar um típico programa para quem pratica kitesurf, o Downwind e conhecer mais um paraíso incrustado no litoral cearense, a apenas 40 Km de Fortaleza.
Nossa aventura começou na divisa entre as praias do Icaraí e da Tabuba, na lagoa formada pela barra do rio que separa essas duas praias. Diariamente, dezenas de kitesurfistas vão para lá velejar em suas águas mornas e calmas. Mas, nosso objetivo não era ficar por ali. O local foi o escolhido por ter um bom acesso à praia e por ser um lugar seguro para montar e decolar os kites, operação que exige além de muita atenção, um terreno plano, sem galhos, árvores ou fios e postes de iluminação em um raio de pelo menos 30m.
Após montar o equipamento, nosso guia, Bruno Correira, junto com sua aluna, a holandesa Nina Elise, iniciaram o que os kitesurfistas chamam de Downwind, que literalmente é o mesmo que velejar ao sabor dos ventos, partindo de uma praia em direção a outra, sempre "descendo" no sentido leste/oeste.
Esperamos os aventureiros sumirem de nossas vistas e fomos reencontrá-los logo depois da Praia do Cumbuco. Como no trecho entre essas praias é proibido o trânsito de veículos, não poderíamos acompanhá-los pela praia. Lá, esperamos por cerca de dez minutos até que a dupla apareceu e fomos os seguindo pela praia, dividindo a atenção entre eles e a paisagem exuberante do litoral das praias do Cumbuco e Cauype.
Contudo, a essência deste esporte vai muito além da contemplação de cartões-postais naturais. Mas isso, eu só compreenderia quando chegasse ao destino final, a Lagoa do Cauype.
Lá chegando, tomei um verdadeiro choque. A beleza inebriante do lugar é algo surreal. A paisagem composta por uma lagoa com cerca de 1,0m de profundidade, rodeada de dunas, vegetação e simpáticas barraquinhas é no mínimo espetacular. "Fui a vários países da América Latina. Chile, Peru, Argentina, entre outros. Aqui é o melhor lugar do mundo, tanto para o kitesurf, quanto para quem quer conhecer lugares emoldurados por algumas das paisagens mais lindas do mundo", afirmou a holandesa Nina.
Quanto a mim, não poderia sair dali sem antes tentar dar uma voltinha de kite. Fui tomar uma aula com o instrutor Ricardo Lehmamm, o Fofão.
No fim, após quase enroscar a minha pipa na de outro velejador, tudo terminou bem e pude constatar que, assim como muitos me falam, o kitesurf é um esporte relativamente fácil de aprender. Algo quase intuitivo. Mas qualquer desatenção pode trazer graves consequências. Por isso, ao tomar aulas de kitesurf, é bom procurar profissionais habilitados.
Saiba Mais
Ceará em foco
O Estado é conhecidos internacionalmente por abrigar locais onde se venta durante todo o dia e por possuir várias locações que já estão sendo vistas como grandes estações para a prática do esporte
Diferenciais
A grande extensão de praia limpa - isto é, sem obstáculos naturais ou artificiais -, a boa infraestrutura, a ausência de tubarões, a não existência de pedras na praia e no mar, o calor da água, o razoável baixo custo, entre outros, tudo isso tem colocado o Ceará na rota dos lugares mais cobiçados por velejadores
Estrutura
Qualquer pessoa pode aprender o Kitesurf. É um esporte relativamente fácil desde que seja ensinado por um profissional habilitado. No Ceará e no Nordeste, existem boas escolas, com profissionais preparados para iniciar qualquer pessoa no kite com didática específica e total segurança
HISTÓRIA DE UM ÍDOLO
Como um conto de fadas
A Barra do Cauype é o pano de fundo perfeito para uma história de superação e um pouco de sorte, digna de um grande atleta. E foi justamente o que encontramos quando nos deparamos com Evandro da Silva, um dos destaques do Super Kite 2011, evento internacional realizado na Praia do Cumbuco no fim de semana passado.
Evandro é um exemplo vivo da verdadeira essência do kitesurf. Nascido e criado às margens da lagoa, viu, ainda criança, os primeiros kitesurfistas chegarem ao Cauype, transformando para sempre a paisagem e a história daquele vilarejo.
Inspiração
Inspirado no primo, Alexandre Goiaba, o primeiro nativo a dominar o esporte, Evandro, ainda com 13 anos, teve o contato inicial com as pipas, que pareciam indomáveis, como ele mesmo afirmou: "aprender a andar naquelas pipas parecia algo impossível".
Desde então, foi apenas um pulo até ele se tornar um ídolo respeitado e mundialmente conhecido.
"Na primeira vez que fiz uma viagem internacional fui para Cabarete, na República Dominicana, Mar do Caribe. Parecia não acreditar onde o kite tinha me levado", declarou Evandro emocionado.
"Sinceramente, nem sei o que seria da minha vida se não fosse o kite. Hoje, eu tenho um patrocinador, um salário mensal e sou muito feliz. Posso dizer que tenho a vida que pedi a Deus. Só não venham me falar em sair do Cauype. Nunca vou deixar minha lagoa", finalizou.
É fabuloso acompanhar os rumos que a vida deste legítimo sertanejo tomou. De um garoto sem perspectiva a ídolo que não renega suas origens e não pretende se afastar do ninho.
GEORGE NORONHA
ESPECIAL PARA O JOGADA
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